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Breve discussão sobre FC Porto 3-1 FC Bayern


Embora muitos apreciem os conceitos de futebol moderno conduzidos por Guardiola e sua manifestação atual através do Bayern, não se pode deixar de levar em conta a impressionante vitória obtida pelos dragões em Portugal. Afinal de contas não é costumeira uma derrota da equipe conduzida pelo treinador dos bávaros, da forma que foi. Ainda que os primeiros gols tenham sido produzidos através de “equívocos” individuais, é importante ressaltar que estes equívocos foram provocados por uma pressão inteligente por parte da equipe do Porto. E por isso torna-se tão interessante uma análise sobre o jogo, mesmo que depois no jogo de volta o FC Porto haja sofrido uma derrota com grande superioridade por parte do Bayern Munich FC.

Eu, particularmente por haver vivido temporariamente na cidade do Porto, desde que deixei de viver lá, em 2009, sempre tive muito carinho pela cidade e pelo clube que melhor a representa e desde então sempre procuro estar atualizado sobre os acontecimentos relacionados ao clube e confesso que a vinda do treinador espanhol ao clube, me causou estranheza, por não ser um treinador de renome, e pelo que sei, dito de amigos portugueses, a eles causou estranheza também.

O treinador do FC Porto Julén Lopetegui Argote, de 48 anos, vem sendo considerado recentemente como um dos treinadores emergentes do futebol europeu, seguindo a tendência pós-guardiola de treinadores espanhóis, representando uma geração de treinadores jovens e com concepções atuais sobre o jogo e o treino de futebol. Lopetegui vem do norte da Espanha, País Basco, e em sua trajetória como jogador (goleiro), teve passagens discretas por Real Madrid e Barcelona. Jogou toda sua carreira sem sair de Espanha, assim como é a primeira temporada de sua vida trabalhando com futebol fora de seu país de origem. Grande parte de sua trajetória como treinador foi vinculada á equipes de base da seleção espanhola entre 2011 e 2014, tendo excepcional êxito no trabalho de formação, porém nunca antes tendo um trabalho relevante como treinador de equipes profissionais até então.

A equipe do FC Porto, por um lado teve o desfalque de Cristian Tello (ex-Barça), que marcou 5 gols em 4 jogos antes de sofrer uma grave lesão que o afastou dos jogos mais importantes da Champions League. Por outro lado, contou com o colombiano Jackson Martinez que dentro de uma excelente forma vem sendo bastante importante não só na Champions League mas também na Liga Portuguesa.

No Bayern FC, Josep Guardiola sem dúvida sentiu a perda de dois importantíssimos jogadores, Franck Ribery e Arjen Robben. Estes desfalques fizeram com que o treinador adaptasse a forma de jogar a qual a equipe vinha condicionada, estruturando a equipe em uma espécie de 1-4-3-2-1, como variação do 1-4-3-3. Alaba, Benatia e Schweinsteiger fizeram falta como recurso á equipe, e mesmo que Guardiola tenha contado com um grupo de jogadores de alto nível, estas perdas no elenco, fragilizaram as alternativas da equipe durante o jogo.

SABER PRESSIONAR...

FC Porto dedicou-se ao jogo de maneira impressionante, com uma pressão coletiva extremamente inteligente e eficaz combinando este comportamento com uma compactação defensiva exemplar.

O comportamento tático mais importante, que influenciou o resultado do jogo foi sem dúvida a pressão efetiva do FC Porto. Os primeiros dois gols do FC Porto aconteceram especificamente desta atitude coletiva da equipe: (a) fechando as possibilidades de passe do Bayern FC e deixando que a bola permanecesse com jogadores os quais lhes convinha pressionar em situação de tomada de decisão; (b)

Pressão com jogadores de muita velocidade, (de raciocínio e deslocamento – pois uma coisa só interessa em conjunto da outra) nos dois casos de gol, o cigano Quaresma. A pressão acontecia de maneira coletiva, e não advinda de apenas um ou dois jogadores, sempre conectada a um encurtamento de campo por parte dos jogadores de trás.

Esta estratégia adotada pela equipe do FC Porto foi fundamentalmente definida, acredito, por se tratar de um jogo contra o Bayern de Guardiola, com uma caraterística bastante marcante com relação á "quase que invariavelmente" atitude de não abrir mão da posse e construção do jogo com passes diagonais para sair da pressão – ...caso os espaços se fechem...recomeçam novamente desde a defesa. E sabendo disso Lopetegui construiu sua estratégia (Por isso penso que este jogo tem tanta relevância, não simplesmente pelo resultado, mas principalmente pela forma como se construiu o jogo).

Sem dúvida este jogo foi importante também para as decisões de Guardiola para o jogo da volta em Munich, Ineitavelmente não abrindo mão de seus conceitos de jogo mas sim, evoluindo e buscando soluções para novos problemas do jogo (e por incrível que pareça, assisti comentaristas de um renomado canal “esportivo de TV” comentando que as idéias mirabolantes do Guardiola não estavam mais dando certo e que ele precisaria rever seus conceitos. Rever seus conceitos?? Pelo contrario, ele reforçou. A equipe dele será campeã alemã – de novo – esta nas finais da Champions – de novo, e por que jogou com uma equipe que o fez perder um jogo, ele precisa rever seus conceitos?? Francamente...Mas pronto, isso não vem ao caso...seguimos falando do jogo)

Os jogadores de Lopetegui não perseguiram freneticamente os jogadores do Bayern ou estruturaram marcação de forma agressiva de maneira constante. De fato, o que me pareceu ao longo do jogo foi um bloco médio que tentou anular sobretudo as primeiras opções de passe do Bayern, apenas tentando manter-se compacto no meio campo sem grandes espaços. Mas além deste comportamento da equipe, quando o Bayern conseguia superar esta pressão, o FC Porto obtinha uma segunda atitude de recuar em bloco baixo, não mantendo uma constante pressão alta o tempo todo, o que a meu ver foi uma atitude bastante inteligente.

O FC Porto parecia satisfeito em oferecer as beiras do campo para o Bayern que sem Ribery e Robben, não oferecia tanta agressividade ofensiva como de costume e basicamente o jogo se resolveu dentro destas concepções. Mesmo que tenham havido outras alternativas táticas mais discretas ao longo do jogo, penso que o fato de saber pressionar com qualidade e de maneira coletiva fez com que o Porto obtivesse o resultado surpreendendo o Bayern de Guardiola.

Para os que assistem o jogo de futebol e tentam perceber algo mais além do resultado final, existem sempre jogos, os quais guardamos aprendizados, outros nem tanto, mas acredito que este foi um dentre muitos os jogos que a interação entre as duas equipes nos faz aprender um pouco mais sobre futebol.

Estes são os primeiros posts do site, e esperamos que sejam válidos para nossa realidade, mesmo que a realidade de jogo no Brasil, ainda guarde características distintas das que se observa em jogos na Europa, acreditamos que com discussões e materiais como estes e também análises de jogos de equipes su-americanas e principalmente brasileiras, possamos contribuir para a evolução dos conceitos de jogo das pessoas envolvidas com o futebol.


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