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A Construção do Jogar: Conceitos que Limitam-Libertam

Como condição de início a linha de raciocino da lógica de Tarski sobre os Sistemas Semânticos, o Jogo de Futebol por sua complexidade na comunicação/interação entre os integrantes de uma equipe e deste com os adversários não dispõe de todos os meios necessários para explicar a si mesmo, ainda mais pelo fato de ocorrer uma comunicação linguística entre os elementos da equipe, no sentido de inteligibilidade dos princípios específicos de jogo [códigos comunicacionais] que por sua vez, são perturbados pelo jogo, erros comunicativos entre eles e do contexto, sobretudo imposto pelos adversários que realizam uma contra-comunicação. Somente com seus estudos, por mais profundos que possam ser, entre suas dinâmicas estruturais coletivas, setoriais e inter-setoriais, é que pode o jogo, apresentar-se precariamente, perante a complexidade de todas as variáveis intervenientes no processo de Jogo e em associação com o processo de ensino-aprendizagem/treino.

Todas as dimensões (técnica, estratégica [ou tática, dependendo do entendimento de cada um], física e psicológica), ditas “dimensões inerentes” do jogo, não se bastam para conhecer a si próprias, muito menos quando se pretende conhecer as demais. Elas devem ao mesmo tempo, integrar, articular, ultrapassar o seu sistema de conhecimento para uma estrutura de conhecimento mais ampla e mais “específica”, ao qual deva, todavia, comportar uma “socialização” de todos os conhecimentos do Futebol, enquanto arte/ciência (jogar/treinar). Ao treinador (e sua comissão) cabe construir o modo de “jogar” de acordo com sua forma de entender, compreender, executar e avaliar o jogador e a equipe em cada momento do jogo. Esses têm papel determinante e co-participativo desse entendimento, que são refletidos em escolhas (decisões). Porém, a fim de edificar esse jogar peculiar, necessita-se antes de tudo saber caracterizar e descrever a forma de treino e jogo. Apenas um “Como construir esse Jogar”? Um processo de codificação da performance. Ou seja, modelagem.

Modelar algo que se pretende seguir, está inerente a crenças, valores e convicções adquiridas durante as experiências práticas e teóricas, que se completam e não são dicotômicas. De acordo com Vitor Frade, seria uma sintonia com tudo que é envolvido. Pode e deve existir de acordo com aquilo que se quer modelar se estendendo ao treino e suas criteriosas, pontuais e fundamentais orientações.

A Modelação das “Ideias de Jogo” permite rentabilizar a prestação dos jogadores e da equipe no processo de ensino-aprendizagem/treino e na competição segundo Júlio Garganta. Modelar as “Ideias de Jogo” está primeiramente em entender as partes (jogadores) que irão compor o todo, entender como era o “Todo” com outras ideias (gestão anterior) e/ou com certa falta de ideias. O treinador deve entender este “Ecossistema Complexo” (Jogador-Social-Tática-Experiência-Princípios-Jogador), se quiser ter sucesso na construção intencional de sua forma de jogo própria. Segundo Xavier Tamarit, devem também entender as infinitas dimensões dos contextos associados a esse ecossistema complexo, que contemplem o Modelo de jogo como uma Intenção prévia está formada pela interação entre diversos fatores como: a Cultura do país, a Cultura do clube/História do clube, a Estrutura do clube/Objetivos do clube, as Características e níveis dos Jogadores e outros fatores aos infindáveis detalhes que a realidade tem.

A Concepção de Jogo (“Modelo de Jogo”), independente de como se arquiteta, abre/fecha as potencialidades de criatividade, a liberdade da descoberta e produção do conhecimento do jogo para com os jogadores. Ela abre e atualiza fornecendo aos jogadores o seu saber acumulado não-linearmente, por uma gama de situações aleatórias, num âmbito de exigência contínua de suas habilidades motoras, de resiliência (superação) de cada obstáculo (mesmo em estados emocionais distintos e concorrentes entre os indivíduos humanos/atléticos), etc.

Assim, a mesma Concepção que abre para novos conhecimentos é a que fecha/anula para a produção do conhecimento. Sendo necessário um contexto de redundância sem redundância, um paradoxo que atribui padrão e renovação.

Contudo se torna imprescindível a preocupação com tudo aquilo que envolve a Concepção de um jogar, como também perceber a que nível eles se encontram, tendo em vista toda a sua bagagem de treino (treinabilidade) em termos de complexidade (progressão complexa).

O Treino, enquanto Processo de ensino-aprendizagem/treino i.e. ensino-repetiçao (Propensão), necessita ser um meio de propagação do processo solução de situações-problema criadas intencionalmente e não apenas uma repetição por meio da solução dos problemas sem um objetivo [apesar de fazer parte do contexto de treino]. Ou seja, o processo deve estar identificado fundamentalmente pela presença de conteúdos que tenham a ver com o jogar que se pretende. Um guia, uma orientação. Tem-se que, com isso, ser coerente com os princípios desse jogar, sendo essa coerência representada pelo exercício propriamente dito. Pois este nesse processo irá viabilizar a “cultura de jogo” (um conjunto de operações e comportamentos que identificam a equipe).

Contudo, temos que conceber os princípios que permitem compreender que uma cultura possa produzir aquilo que arruinará.

O entendimento desse processo passa por reconhecer que cada jogador tem suas peculiaridades/necessidades pessoais e profissionais. E sistematizar princípios indispensáveis guiarão/limitarão a tomada de decisão do jogador.

Em suma, o jogador decide, a equipe (e seus princípios) auxiliam essa decisão e, indissociadamente todos participam e se colocam a disposição para que essas normas orientadoras ocorram, de forma livre, que com o treino no mesmo sentido se tornam espontâneas, livres mas, sem serem libertas.

Vídeos Exemplos:

Título: Interpretação dos Princípios – Princípios Limitador/Possibilitador – Sair ou não da linha defensiva?

Comentário: Não podemos deixar de levar em consideração que o fato de o jogador sair para pressionar o portador da bola, mesmo em condições estrategicamente desfavoráveis, foi uma opção certa no determinado momento. O que levamos a entender que o jogador exacerba sua total criatividade quando tem liberdade para ler e interpretar as situações problemas do jogo.

Assim, se "o que fazer, o quando fazer, o como fazer, e com quem fazer" é, invariantemente, uma representação não-linear do princípio de jogo que se transforma conforme o momento específico do jogo e do jogador, da circunstância tática e do entrosamento e, expertise do jogador e da equipe como um ser só. Desenvolvida pelo treino em especificidade.

Título: Princípios Limitador ou Possibilitador?

Comentário: Em questões ofensivas a elaboração de Princípios/Ideias de jogo se torna algo mais suscetível ao erro e/ou ao não aproveitamento total das possibilidades/vulnerabilidades defensivas do adversário. Estabelecer o (des)equilíbrio entre regras e liberdade em uma fase do jogo no qual a necessidade de interpretação e leitura das situações problemas do jogo, das movimentações e dos espaços do adversário é algo crucial para a eficácia da Movimentação Ofensiva.

As possibilidades existem no sentido Fractal (espaço-temporalmente falando). A fractalidade defende a imposição do jogo de forma coletiva, em que toda a equipe realize em simultâneo vários ou todos os princípios táticos fundamentais e refletidos pelos seus jogadores, assim como os seus jogadores podem se colocar posicionalmente de forma favorável a fim de dispor a equipe de vários ou de todos os princípios táticos fundamentais.

Muitas vezes esses princípios são inseridos numa neguentropia pela leitura de jogo do treinador tendo em conta seu contexto e sua equipe. E também, pelos jogadores de forma livre (criativa) ao se colocarem numa posição em que garantam a coesão coletiva e ao mesmo tempo corram menos (no sentido físico).

O jogador reconhece um princípio de jogo fundamental do seu treinador. Se a superfície (linha) for quebrada, alguém sai para proteger a progressão em direção ao gol e os outros realizam a cobertura defensiva, de forma a garantir a recuperação da posse.

Essa integração fractal foi bem concebida o que limitou a decisão do jogador de duas maneiras: pelo pressing (diminuindo o seu tempo [e espaço] de decisão) e pela colocação na cobertura, o que é fundamental e deve estar no mesmo “nível hierárquico” [didaticamente falando] do pressing.


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