top of page

Formatos de jogo no processo formativo do futebol


No futebol brasileiro atual, percebe-se que poucos jogadores possuem o domínio conceitual sobre as dinâmicas essencias do jogo. Muitas das dinâmicas de jogo, no futebol brasileiro, independentemente de divisão ou categoria, estão centradas na individualidade, seja em carácter defensivo ou ofensivo, sempre as refrências são individuais, empobrecendo de certa forma, o carácter coletivo do jogo.Salvo algumas excessões, os jogadores concentram-se na individualidade do jogar, sem serem encorajados a entender as dinâmicas essenciais do jo e isso, muito devido ao fato de também os treinadores pelos quais tiveram a oportunidade de compartilhar seu períodos de treino, seja na formação ou já em ambiente profissional, também não o entenderem estas dinâmicas.


O futebol brasileiro passa por um processo de reflexão do rumo o qual o nosso futebol estará seguindo após o mundial sediado no país, onde se evidenciou para muitos, (alguns fingem não ver) a carência de conceitos sobre o jogo e treino, estagnado em verdades, consideradas já ultrapassadas em países onde o futebol, inevitavelmente se pode dizer, está mais evoluído que aqui. Ainda que lentamente estejam surgindo treinadores com conceitos mais atualizados sobre treino e jogo (muito mais por interesse próprio que propriamente por uma orientação institucionalizada), o Brasil carece (e muito) de uma reforma estrutural na organização dos processos (calendários, formação de treinadores e diretrizes de formação das equipes de base). Este texto busca aproximar uma abordagem reflexiva sobre as possibilidades de alteração dos formatos de jogo nas equipes de iniciação em futebol, utilizando como referência um levantamento elaborado e publicado no site do órgão máximo organizativo do futebol na Europa, a UEFA e tratado também através de matéria da revista digital dividida.pt.


Diversas organizações relacionadas ao desenvolvimento do futebol, como federações e associações nacionais e regionais pelo mundo, estruturam os seus campeonatos de futebol infantil, distribuindo os jovens jogadores em diferentes categorias, divididas em função da idade cronológica, e ainda uma variação de formato do jogo para diferentes categorias, caracterizadas por adaptação das dimensões do campo, número de jogadores e tamanho da bola.


No Brasil, os campeonatos de futebol apresentam suas peculiaridades no regulamento em cada estado onde é organizado, por sua respectiva federação ou entidade que detém essa responsabilidade, mas em termos gerais, em todo Brasil, as competições de equipes de base a partir das categorias sub-10 adotam o formato de jogo 11v11 em dimensões de jogo oficiais, apenas alterando em alguns casos o tamanho a bola mais apropriado para cada faixa etária. A pesquisa desenvolvida pela UEFA elucida a adaptação do jogo em diferenças categorias com diferentes formatos do jogo em países europeus, e mesmo que ainda não haja uma padronização dos processos, percebe-se uma tendência acerca da adequação destes formatos de jogo numa perspectiva de formação progressiva dos jogadores de futebol, especialmente nas idades mais jovens.


Ainda que em nosso país haja o surgimento quase que espontâneo de um grande número de jogadores de futebol, não existe uma orientação padronizada conduzida através de diretrizes advindas da Confederação Brasileira de Futebol, ou seja, formamos jogadores «apesar de um processo» e não «através de um processo». Pois infelizmente não existe ainda uma padronização na filosofia de jogo (aqui me refiro á principios de jogo e não estruturas táticas) e treino conduzido pelos treinadores que atuam em nosso futebol. Mesmo que, eventos como o surgimento da EBF – Escola Brasileira de Futebol, tenham contribuído para uma busca neste sentido, ainda é muito pouco e ainda há muitas restrições de acessibilidade á esta instituição ligada á CBF, compreensível em virtude das dimensões geográficas do país. Ainda que haja o surgimento constante de jogadores brasileiros atuando profissionalmente em todo o mundo, se comparado com países com dimensões geográficas e população consideravelmente menores, como Uruguai, ou Holanda, percebemos que o nível de produtividade de jogadores de futebol no Brasil deveria ser muito superior ao que de fato é, e muito se deve á carência de diretrizes do processo formativo, por parte da CBF e das federações estaduais. Afinal, para exacerbar o carácter individual do jogo, não há a necessidade de se elaborar um processo formal de desenvolvimento através do jogar, uma vez que o futebol informal (de rua, de várzea, de praia) ainda possui grande espaço no processo de aquisição de habilidades gestuais do jogo. Mas estamos falando de outro aprendizado – aprender a jogar o jogo – ou seja, entender as dinâmicas lógicas coletivas do jogo, e para isso, é necessário o planejamento e uma profunda compreensão do jogo por parte dos agentes de treino, neste caso, os treinadores.

GRÁFICO DO NÚMERO DE PAÍSES QUE UTILIZAM CADA UM DOS FORMATOS DE JOGO

Em uma amostra constituída de 33 países, dos mais representativos no cenário futebolístico europeu, percebe-se que em 23 (70%) países utiliza-se o 7v7 em algum momento do processo formativo, sendo este formato, o segundo mais utilizado depois do 11v11, que obviamente é adotado em todos os países no máximo até a categoria sub-14.


Os formatos de jogo de 5v5 (não confundir com futsal, pois todos os formatos são desenvolvidos em gramado natural ou artificial) e 9v9 são utilizados em 18 países (55%) em algum momento do processo formativo.


Os formatos de jogo 6v6 e 8v8 aparecem em alguns países, porém não são formatos predominantes e coincidem em serem adaptações que constituem números pares de jogadores, diferentemente dos formatos de jogo, que predominam o jogo com número impar de jogadores, semelhante ao formato tradicional 11v11.


Apesar da divergência verificada em alguns países, como relação á adaptação do jogo em categorias iniciantes, emerge uma tendência global, para que a utilização dos diferentes formatos de jogo seja progressiva e proporcional ás categorias. O aumento da idade dos jogadores corresponde ao aumento progressivo das dimensões do jogo e do número de jogadores.



GRÁFICO DE UTILIZAÇÃO DOS FORMATOS DE JOGO POR CATEGORIA


Percebe-se que apenas 2 países europeus compartilham formatos competitivos como no Brasil, onde desde a categoria sub-10 se joga no formato 11v11. No total dos 33 países analisados, somente a partir da categoria sub-13, o 11v11 começa a ser o formato de jogo predominante entre todos os 33 países se estabelecendo por fim em todos os países a partir da categoria sub-14.


Mesmo sabendo que no fim do processo formativo (pré-profissional) todos jogarão o mesmo jogo. Percebe-se evidentemente que o jogo em menor escala propicia a execução de comportamentos específicos do jogo com maior frequência e maior intensidade em categorias menores, se compararmos com o formato 11v11 sendo jogado em categorias iniciais.

Percebe-se que nestes 33 países europeus participantes no estudo desenvolvido pela UEFA, não existe uma diretriz comum sobre os formatos de jogo utilizados em competições infantis. No entanto, apresentam em comum a tendência na grande maioria de utilizarem aproximadamente 4 formatos de jogo diferentes durante o processo de formação, juntamente com o 11v11 adotado em etapas onde os jogadores já acumulam aproximadamente 4 anos de prática, os formatos de jogo mais adotados são o 7v7 e o 9v9 com elevada percentagem de utilização. Os demais formatos apresentam menos utilidade, mas é interessante constatar a preocupação de alguns países europeus estruturarem processos com inicios em idades muito baixas, o que expõe a necessidade no ajustamento dos formatos de jogo e estratégias pedagógicas mais adequadas a cada etapa de desenvolvimento.

Portanto, será que um processo formativo, com formatos de jogo progressivos contribuiria para uma assimilação maior das dinâmicas de jogo no futebol? E de que vale o processo adequado sem treinadores qualificados o suficiente para desenvolver os conteúdos essenciais do jogo?

Desta forma, fica a reflexão consequente, de buscarmos entender os motivos pelos quais no Brasil não se utilizam outros formatos de jogo na formação... No fim das contas, de nada adianta levantarmos estas reflexões, se os agentes que decidem os rumos do nosso futebol estiverem mais interessados em outros assuntos, que não a formação mais eficaz dos verdadeiros agentes do jogo – jogadores e treinadores. Não há necessidade em saber o que é o mais coerente para a formação, se não existir vontade de se modificar o estado das coisas e mudar os rumos do futebol brasileiro. Depois da derrota para a seleção alemã na copa do mundo, o que mais precisa acontecer para que as coisas comecem a mudar?


bottom of page