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DEFESA A ZONA: Roubar sem “Correr”, a gestão do espaço como estratégia

A fim de desejar uma organização defensiva estruturada e coesa, os treinadores geralmente pensam em milhões formas de treinar defesas que sejam impenetráveis e eficientes, mesmo que isso seja utópico. Ao estar em Organização Defensiva, a equipe baseia-se num bloco que oscila, “fechado" (linhas de marcação próximas) e de acordo com a movimentação (circulação da bola) sendo esta uma das principais referências da Marcação Zonal. Mas tendo em vista um equilíbrio coletivo, é importante lembrar que pode-se atacar defendendo e defender atacando. A partir desse pressuposto deve-se pensar em controlar o jogo mesmo sem a posse de bola. A manipulação do adversário possui uma constante e importante participação nos momentos do jogo no futebol de alto rendimento, tanto em aspecto individuais como coletivos.

“Compreender uma coisa apenas de uma maneira é um modo muito frágil de compreensão. Para uma pessoa realmente entender algo, precisa compreendê-lo no mínimo de duas formas diferentes. Cada modo de pensar sobre algo reforça e aprofunda cada um dos outros. Compreender uma coisa de várias maneiras produz uma compreensão total mais rica e de natureza diferente da forma única de compreensão”. Mitchell Resnick

Manipulação, roubar sem “Correr”

No intuito de melhor compreender, e por mera questão pedagógica, a complexidade do jogo de Futebol, faz-se necessário segmentar o jogo em momentos (Ofensivo, Defensivo, Transição Ofensiva e Transição Defensiva), uma das diversas formas de reduzir sem empobrece-lo (isto se passa por não dissocia-lo). Dentre esta divisão, os momentos críticos do jogo estão nas Transições (Ofensiva e Defensiva) e no Momento Defensivo. A equipe que está em transição defensiva e no momento defensivo não possui a bola, mas isso não significa invariavelmente que não tem o controle de jogo. Há a possibilidade de ter o controle do jogo mesmo sem a bola. Controlar o jogo sem a posse de bola se caracteriza como uma estratégia extremamente complexa, porém não complicada!!

“Marcação Zonal a arte de defender para atacar melhor.” Nuno Amieiro

Defender ou atacar em coletivo (em transições ou momentos) não é pensar a mesma coisa em determinados e diversos momentos, e sim, pensar tendo os mesmos referenciais em determinados e diversos momentos, mesmo realizando ações de formas diferente. Essa talvez possa ser a diferença entre a mecanização da organização e a Complexidade da organização (diferença entre Organização Rígida e Complexa). Organização esta, que deve ser tratado como o resultado da interação/relação entre ordem(princípios técnicos) e desordem(criatividade do atleta) de/em um sistema, que formam por si só um novo sistema organizado e organizante. Difícil é estabelecer o equilíbrio entre a ordem e desordem a fim e se criar um sistema “corretamente” organizado. Portanto, tendo em vista a construção de uma organização, o que causa inquietação/indagação é a sua própria construção. A organização deverá ser construída a partir do todo (a partir da ordem, da equipe) ou se ela deverá ser construída a partir da interação de suas partes (a partir da desordem, dos atletas)?

Caso se pretenda uma organização complexa (flexível e regenerável) tende-se a edifica-la a partir da interação de suas partes(Atletas). Ou seja, alcançar após o processo de ensino-treino um comportamento de "padrão defensivo coletivo", complexo, mas também, dinâmico e adaptativo, compactado, homogêneo e solidário. Parece-nos que serão estas "propriedades" a dar verdadeira coesão defensiva. Pretendendo uma organização rígida e estável tende-se a construir a partir do todo “pré"-pretendido. Dentro do Futebol atual é possível visualizar essa afirmativa muito claramente.

Frade (2008/09) diz: “ (…) uma equipa quando ataca deve procurar clarear o jogo, deve procurar fazer um "campo grande", ocupando corredores e dando profundidade e largura ao jogo (clarear) (…)”. Quando defende “ (…) a equipa deve fazer "campo pequeno", deve procurar "escurecer" o jogo, reduzindo o espaço de jogo à uma equipa adversária. A ideia é ter os setores próximos entre si e conseguir superioridade numérica junto à bola”. Baseando-se nestes pressupostos as referências posicionais defensivas de todo o bloco coletivo são principalmente:

• Os espaços são a grande "referência-alvo" de "marcação";

• A grande preocupação é, por isso, "fechar como equipe" os espaços de jogo mais valiosos (os espaços próximos da bola) para assim condicionar a equipe adversária;

• A posição da bola e, em função desta, a posição dos companheiros são as grandes "referências de posicionamento";

• Cada jogador, de forma coordenada com os companheiros deve fechar diferentes espaços, de acordo com a posição da bola;

• A existência permanente de um "sistema de coberturas sucessivas" é um aspecto vital, o qual é conseguido pelo escalonamento das diferentes linhas;

• É importante pressionar o portador da bola para este se ver condicionado em termos de tempo e espaço ( faze-lo pensar na execução);

• A ocupação cuidadosa e inteligente dos espaços mais valiosos que permite, por arrastamento, "controlar" os adversários sem bola;

• Qualquer "marcação próxima" a um adversário sem bola (diga-se individual ou homem-a-homem) é sempre circunstancial e consequência dessa ocupação espacial racional (por mero arrastamento “(…) controla os adversários sem a bola”. Guilherme Oliveira).

• Na Organização Defensiva há uma maior necessidade de comunicação verbal e visual, propriamente dita, a fim de se aproximar os aspectos defensivos sobretudo para quem pressiona, para quem indica (indicadores de pressão), para quem cobre e para quem cobre aquele que cobre;

Nuno Amieiro, 2010.


“Não acho que é preciso ter os melhores jogadores para defender homem-a-homem. Defendendo à zona, o grupo pode, pelo seu trabalho colectivo, «esconder» os defeitos individuais”. José Felix

Defender a Zona, com certeza se caracteriza como a melhor forma de se defender, pois a preocupação aqui é o espaço a ser ocupado e não os atletas adversários. Espaço que podemos controlar sem a bola, ou seja, podemos influenciar aquele que está com a bola e aquele que irá receber a bola, assim o é, pois temos o controle do espaço, do território a ser ocupado, ou pelo menos podemos tê-lo. Contudo, para se alcançar este patamar alto de jogo coletivo, temos que treinar, mas treinar com muita qualidade, extrema qualidade (nesse sentido o que tem mais valia é o aprendizado que o atleta tem com aquilo que é treinado, e não o quanto, e por muitas vezes como, é treinado).


Costuma-se dizer que é preciso ter jogadores para se Defender à Zona, o que não é verdade. Argumento de que só se pode servir para quem não percebe o verdadeiro papel do treinar (a curto e a longo prazo) e a relevância de uma efetiva organização coletiva. Treina-se atletas, concebe-se a eles uma inteligência individual e coletiva, para que eles saibam o que fazer em determinados momentos do jogo. Pensa-se por muitas vezes no coletivo, treina-se por muitas vezes só o coletivo que acaba-se por esquecer do individual. O atleta por si só é capaz de resolver os problemas mais complexos existentes durante o desenvolver do jogo. O atleta deve ter participação efetiva na tomada de decisão coletiva, ele pode ser capaz de roubar a bola do adversário, de somente ele conseguir influenciar dois, três, etc... atletas a fim de tirar deles a bola. Essa estratégia pode ser caracterizada como um simples e complexo processo de manipulação do adversário.


Quando estamos a defender podemos controlar o espaço de progressão do adversário. E temos por obrigação ao defender de tirar esse espaço. Porém, as vezes é melhor dar determinado espaço para que possamos atrair o adversário (Indicadores de Pressão), para que ele vá a onde queremos que ele vá. Manipular é a palavra-chave de defender bem, e todas as equipe de alto nível sabem e o fazem constantemente. Controlar a cobertura defensiva de quem está pressionando o adversário, saber fazer blocos de pressão no local da posse, induzir o adversário a jogar em determinado lado de campo, atrair para roubar, etc.

O mais interessante/importante na defesa a zona e no processo de manipulação do adversário está na virtuosidade do coletivo e na audácia do individual de ser capaz de “virar o feitiço contra o feiticeiro”, ou seja, é conseguir, mesmo sem ter a bola, mandar no jogo. Dentro deste pressuposto, um dos pensamentos que deve-se ter para compreender melhor as atuais tendências da marcação, está no confronto entre os dois sistemas estratégicos. Assim, as melhores equipas não “encaixam” sua marcação no processo ofensivo daquele que está com a bola; é o adversário quem tem que “encaixar” o seus momentos ofensivos ou transições na forma de defender daquele que não tem a bola. Todavia, basta adotar a estratégia adequada e possuir, escolher, atletas adequados para tal.


Tem-se muitas vezes, um conceito formado antecipadamente e sem fundamento científico-prático sobre a Marcação Zonal. Acha-se, em inúmeras opiniões, que se caracteriza como uma forma de defender passiva. Mas na verdade a Marcação Zonal é melhor forma de se defender em equipe. Pois, o fundamental em se escolher esse tipo de marcação está em ATACAR melhor. Porém, o fundamental no equilíbrio defensivo é a existência permanente de um equilíbrio posicional no seio da equipa, o qual se traduz na ocupação cuidada e inteligente dos espaços no ataque, no sentido de permitir uma reação rápida e eficaz à perda ou ganho da posse de bola.Trata-se de assegurar a permanente gestão coletiva do espaço e do tempo no jogo, com vista ao domínio dos momentos ofensivos do adversário. Contudo, o processo de Manipulação do adversário é uma estratégia extremamente valiosa nesse objetivo.


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